Discutindo a Relação + Lista de Médicos nos Estados Unidos
Mudei. E agora?
Discutindo a relação
Por Thais Berlinck
Se você mora nos Estados Unidos provavelmente se identifique com esse texto. Apesar dos Americanos terem excelência nos quesitos pesquisa e tecnologia médica, a parte humana, a relação médico-paciente deixa muito a desejar. Não… não estou falando de barreira linguística. Para mim, o maior problema não é o inglês, mas sim a questão cultural. Sinto dificuldade em entender e lidar com tanta objetividade. E que objetividade!
Funciona mais ou menos assim. Cada vez que vou ao médico, sinto que as pessoas são tratadas com base em um roteiro pré-determinado, tudo by the book, como se fosse uma receita culinária ou um simples cálculo matemático.
Parece que é tudo quadradinho, tabelado. Não há personalização nem muita conversa. Se você estiver doente, por exemplo, deve marcar um “sick appointment”. A consulta dura em torno de 15 minutos ou até menos e você só pode falar sobre a queixa específica que te levou a agendar um horário no médico. Se resolver conversar sobre algum outro problema (às vezes lembramos de um assunto importante de última hora não é mesmo?), corre o risco de pagar dobrado. O check up, ou physical exam, é feito uma vez por ano. Nele, o doutor pergunta se você está bem fisicamente e entrega o pedido para os exames anuais de rotina (como de sangue, mamografia e papanicolau). Independentemente do tipo de consulta que você tenha marcado, é raríssimo algum médico questionar sobre a sua vida pessoal, se apresenta algum problema em casa, no trabalho, etc. Tenho a impressão de que eles ignoram o fato de algumas doenças terem fundo emocional. As vezes a enfermeira até pede para você preencher um papel sobre saúde mental, marcando os itens que tem a ver com seu estado atual, mas parece que nem olham. Vai saber…
Consulta feita, médico receita remédios e, se julgar necessário, pede exames. Caso você precise retornar, mesmo que seja apenas para pegar o resultado dos exames, paga uma nova consulta. Haja bolso, mesmo para quem tem seguro saúde, já que na maioria das vezes o paciente paga um copay (uma pequena participação no pagamento da consulta) de no mínimo 20 dólares para cada consulta ou exames – com exceção do physical exam que geralmente está incluso.
Em caso de emergência, a gravação que se escuta ao ligar para os consultórios médicos (antes mesmo da recepcionista atender o telefone), já orienta o que fazer: ligue para o 911 (número para emergência) ou se dirija para o pronto-socorro mais próximo. Não tem essa de encaixar um paciente no meio dos outros pré-agendados (até porque americano segue à risca a regra da pontualidade) nem de atender telefone no meio do expediente. Dar o número de celular (como fazem muitos profissionais brasileiros), então, é fato raríssimo.
Por todos esses motivos, comecei a procurar por médicos mais atenciosos, que se diferenciem por prezar a relação com o paciente, que estejam disponíveis para consultas mais longas, que conversem um pouco mais, que procurem saber o que está por trás da queixa e da doença. Conversei com conhecidos e entrei em redes sociais para saber a opinião de moradores das maiores comunidades brasileiras dos Estados Unidos – Flórida, Massachusetts, New Jersey, Connecticut, Colorado e até Minnesota. E notei que essa procura não é apenas minha. Que todos nos dividimos a mesma angústia e vontade de seremos bem cuidados nos momentos de doença e fragilidade. Pedi então indicações de profissionais que seguem um perfil mais humano de trabalho, e fiz boas descobertas. Alguns são brasileiros, outros não. Mas, de acordo com os entrevistados, todos demonstram uma grande paixão pela medicina e uma genuína vontade de ajudar.
Com essas informações em mãos, organizei uma lista dividida por especialidade médica e por estados. Não consegui ainda de todos os estados, mas vamos trabalhar nisso.
Conheça alguns médicos que fazem a diferença nos seus respectivos estados:
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Exames e afins
No quesito exames, também encontrei alguns entraves. Ainda no Brasil, descobri um nódulo benigno no seio esquerdo e, por precaução, resolvi operar. Afinal, já estava com a mudança de país programada e não conhecia nenhum médico americano. Confesso que estava insegura de fazer algo tão invasivo com um profissional desconhecido.
Enfim, operei, mudei para os Estados Unidos e após pouco mais de um ano, minha nova ginecologista pediu a mamografia. Perguntei se ela poderia acrescentar também o ultrassom de mama com base no meu histórico (como tenho o tecido mamário muito denso, o carocinho não apareceu na mamografia prévia feita no Brasil, apenas no ultrassom). Ela topou na hora. Com os dois pedidos de exames em mão, cheguei no laboratório. Após realizar a mamografia, a enfermeira disse a famosa frase: “you are done”. Ou seja, pode ir embora. Como assim? Achei que tivesse esquecido do ultrassom e questionei. Ela explicou que o médico do laboratório considerou a mamografia normal e não sentiu necessidade do ultrassom. Eu pedi para chamar o médico, expliquei sobre o nódulo de meses atrás e disse que gostaria de fazer esse exame. Argumentei bastante. Tudo em vão… Solicitação negada. Mais uma vez prevaleceu a regra geral e a mentalidade de fazer apenas o recomendado por protocolo. Será tão dificil assim perceber que medicina não é uma ciência exata? Voltei para casa inconformada e só fiz o ultrassom um tempo depois durante as férias que passei no Brasil.
Na hora de realizar exames de sangue no Estados Unidos, também estranhei. Fui questionada apenas se eu estava em jejum, mas ninguém perguntou se eu havia tomado algum medicamento na última semana ou nos últimos 30 dias (Isso é de praxe no Brasil, correto?). Descobri que os resultados são encaminhados ao médico solicitante e é ele quem deve fazer a interpretação, checar se alguma alteração pode ser frutos da ingestão de remédios, etc. Ok, cada país tem suas regras e temos que nos adaptar, mas o ponto aqui é que as vezes tomamos remédio por conta própria e não comunicamos ao médico… Será que essa falta de informação não pode atrapalhar o diagnóstico?
Também notei um certo ‘descaso’ em todas as vezes que fiz um teste de urina. A funcionária do laboratório entregou um recipiente onde eu deveria fazer xixi e não deu qualquer recomendação sobre higiene. Não explicou como eu deveria me limpar (se deveria passar a gaze de frente para trás, por exemplo) nem se era importante descartar o primeiro jato. Disse simplesmente, vai lá e faz. E para piorar, no dia do meu primeiro exame de urina, eu estava menstruada. Achei que esse detalhe fosse relevante e comentei. Para a minha surpresa, recebi a informação que deveria realizar o exame da mesma forma. Oi!?!?
Como as coisas são diferentes por aqui!!!! Isso me leva a pensar… Será que os médicos americanos (e os de outras nacionalidades que já incorporaram o modus operandi americano) são desencanados demais? Ou será que os brasileiros são neuróticos na hora de pedir exames e dar recomendações? Vai saber… Talvez eu também cometa alguns excessos, mas prefiro o exagero nos cuidados e na prevenção do que o descaso.
Jornalista há mais de 20 anos, foi repórter e editora das revistas Cosmopolitan e Claudia. Também realizou dezenas de reportagens e especiais para as revistas Elle, Boa Forma, Estilo, Corpo a Corpo, Dieta Já, SuperInteressante e Marie Claire. Casada, mãe de 3 filhos e natural de São Paulo, vive nos Estados Unidos há 4 anos. Apaixonada por esportes, viagens e leitura.